Aqui, por trás dos montes, onde os homens choram como as
mulheres, onde as mulheres trabalham como os homens, onde o vinho se faz com o
que traz da terra sem se fazer acompanhar de nada. Sem cristais nem aditivos.
Aqui, onde o vinho é doce e o bagaço assusta. Não haveria espaço para pensares
sequer numa alternativa. Serias homem do campo e na mesma andarias a cavar com
as mãos. As mesmas mãos com que já cavaste e que hoje prezas um pouco mais, mas
não muito.
Mandarias todos à merda assim que passasse o primeiro desconto,
aquele que se dá quando ainda não se conhecem as pessoas, e ainda se tem uma
esperança que elas possam ser melhores do que aparentam.
Mandarias todos à merda, e talvez não tivesses lugar
aqui. Porque o que és hoje permite-te mandares quem quiseres aonde quiseres.
Se tivéssemos todos nascido aqui, não seríamos senão
homens e mulheres da terra, alguns, mas poucos, capazes de se inspirar com o
cheiro do ar e da terra. Teríamos os problemas do vizinho enquanto nos
esquecíamos de nós.
Hoje somos mais egoístas.
Somos mais nós e mandamos à merda quem se intrometer.